Por Leandro
Quintanilha
Revista Língua Portuguesa
Técnicas da tradição
literária ajudam a idealizar as mais criativas mensagens publicitárias.
Numa espécie de resolução de ano,
Clarice Lispector escreveu: “Em cada frase, um clímax.”
Eis aí uma aspiração literária
compartilhada com a publicidade. Os slogans, enunciados que propagam conceitos
feitos para vender produtos, podem ter a alma dos negócios em cada letra, mas
namoram recursos consagrados pela tradição literária, como a métrica, a rima, a
metonímia e a aliteração. Traduzir uma campanha publicitária numa frase (com
clímax) requer criatividade, claro, mas também profundo conhecimento da língua.
Incorporada ao português, a palavra
inglesa slogan vem do gaélico escocês
sluagh-ghairm, que significa “grito
de guerra”, uma acepção obsoleta. Mais do que impor, cabe hoje ao slogan
convencer, seduzir. No mercado ou na política.
Ao longo da história da publicidade,
as agências assentaram alguns pressupostos para a criação de um slogan – quase
todos já subvertidos. O slogan tradicional é composto por uma frase curta,
direta, afirmativa e fácil de repetir. É, em geral, uma conclusão.
Mandamentos da frase publicitária
1) Deve ter um único
período
Exceção:
“Algumas coisas
não têm preço. Para as outras, existe Mastercard.”
2) Deve respeitar a
ordem direta dos termos gramaticais
Exceção:
“Se é Cica, bons
produtos indica.”
3) Deve ter uma frase afirmativa
Exceções:
“Não dá para não
ler.” (Folha)
“Não tem
comparação.” (Brastemp)
“É fresquinho
porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?” (Tostines)
“Tomou?”
(Parmalat)
Da rima ao neologismo
Conheça alguns
recursos literários usados em slogans conhecidos
Metonímia
é a substituição de um termo por outro que com ele tem relação de sentido lógico
e constante. Há entre os termos afinidade ou continuidade de sentido. “Hoje é
dia de sofá”, slogan da rede de locadora de vídeo e DVD Blockbuster, transfere,
por sinédoque (tomar a parte pelo todo, o singular pelo plural, a matéria pelo
produto), a ideia de exibição de filmes na TV da sala de estar para a do objeto
em que isso ocorre na sala. Assim também ocorre com o slogan do Boticário
(“frascos de natureza”), em que se toma a substância pelo recipiente.
A metonímia é apenas um dos muitos
recursos retóricos e literários usados pela publicidade para elaborar as
mensagens com que vende produtos, empresas, imagens e conceitos. O conhecimento
desses recursos trona mais fácil materializar uma ideia.
Aliteração
“Pense forte, pense Ford.”
“Vira verão Samoa.
“A alma é ótima.”
Paralelismo
“Você tem seu estilo. A Renner
tem todos.”
“O mundo gira e a Lusitânia
roda.”
Ressonância
“Lula-lá.”
Neologismo
“O mundo é dos nets.”
Coloquialidade
“Coca-cola é isso
aí!”
Ironia
“O pior programa do mundo.”
(Perdidos na Noite, da Band)
“Não é uma Brastemp.”
Duplo sentido
“Globo, a gente se vê
aqui.”
Métrica
“A Atma é ótima.” (Atma:
redondilha menor)
“O sol na medida certa.”
(Sundown: redondilha maior)
Rima
“Quem bebe Grapete repete
Grapete.”
“Tomou Doril, a dor sumiu.”
Trocadilho
“Salve-se quem tiver.” (Sul-América)
“Ler ou não ser.” (Siciliano)
Intertextualidade
“Prefeito para você.” O slogan do
Itaú Personalité remete ao do próprio banco que lhe serviu de matriz, o do Itaú
“Feito para você.”
Universo semântico do produto
“Põe na
Cônsul.”
“Dummont – o
primeiro a cada segundo.”
“O primeiro a
dar as últimas.” (Repórter Esso)
“Tudo anda bem
com Bardhal.”
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