O Lobisomem
Barão de Itararé
O pavor do menino
O menino era taludo, mas meio
bocó. De maneira que o pai não estranhou quando, muito afobado, o garoto com
voz trêmula, lhe disse:
‒ Papai! Papai! Foi bom teres
chegado agora! Estou morto de medo! Lá em cima, no quarto, tem um lobisomem!
‒- Não seja bobo, menino!
Que tolice é essa? Então, você não sabe que lobisomem não existe? Lobisomem é
só conversa fiada!
‒ Não é, papai! Quando tu bateste
a campainha, ele saiu correndo e se meteu dentro do guarda-roupa. A mamãe ficou
assustada e se fechou dentro do banheiro!
Tremenda surpresa
O chefe da família, homem
resoluto e destemeroso, que voltava inesperadamente de uma viagem, decidiu
subir as escadas, rapidamente, encontrando a sua alcova em desalinho. Abriu energicamente
o guarda-roupa e recebe um impacto de surpresa. Encolhido, imóvel, no fundo do
móvel, estava o chefe do seu escritório muito pálido e com a respiração
suspensa:
Revolta e desilusão
‒ Bonito, seu Antônio! − balbuciou,
afinal, o dono da casa. E, dando à sua voz uma entonação de profunda revolta e
desilusão, prosseguiu:
‒ Parece mentira! Custa-me crer
no que vejo! Então, o senhor, que veio me bater à porta, morto de fome, sem
roupa, sem dinheiro e a quem eu atendi com a melhor boa vontade
proporcionando-lhe trabalho honrado, com um ordenado magnífico, dando-lhe um
posto de inteira confiança no meu escritório, justamente no momento em que
deveria estar trabalhando, fiscalizando os outros empregados, atento a seus
deveres de chefe da firma, o senhor aproveitando a minha ausência, o senhor vem
a minha casa para assustar as crianças e a minha querida esposa? Acha que é
correto esse seu procedimento? Vamos! Saia daí e vá cumprir as suas obrigações
no escritório, antes que eu me zangue e lhe rebaixe o ordenado!
Humilhação e vergonha
O senhor Antônio saiu muito
humilhado do guarda-roupa, baixou a cabeça e retirou-se, profundamente
envergonhado de seu mau procedimento.
Lição de alta moral
O dono da casa, com o filho pela
mão, vai, em seguida, ao banheiro, bate com força na porta e ordena à sua
esposa que abra! A senhora transida de pavor, obedece. E, então, o marido
tranquiliza-a, explicando:
‒ Não sejas tola! Tamanha mulher
com medo de lobisomens... Não vês que era “seu” Antônio o chefe do escritório,
que, em vez de estar trabalhando, veio fazer essa brincadeira besta de vir
assustar vocês. Também ele ouviu poucas e boas...
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